6 de janeiro de 2015

História do samba nasceu na roça O samba é uma expressão cultural, uma manifestação da alma brasileira. Sua matriz veio da África, junto com os negros trazidos como escravos.

Brasil está entre os maiores produtores de grãos e de carne do planeta. 
Além da comida, do algodão, da madeira ou da energia gerada pela cana, 
nosso campo também rende muita festa, cultura e até música, 
como o samba, que nasceu no chão de terra batida das fazendas.
Ele já fez realeza descer do trono e transformou gente comum em majestade. 
O samba é uma expressão cultural, vai além do ritmo, da dança ou do canto. 
É uma manifestação da alma brasileira.
Hoje, quando se fala em samba, o mundo inteiro pensa no Rio de Janeiro. 
O desfile das escolas cariocas recebeu o título de maior 
espetáculo a céu aberto do planeta.
É impossível não ser contagiado pelo som, pela energia da 
bateria de uma escola. O que pouca gente sabe é que o samba 
nasceu na roça e num dos momentos mais tristes da história do Brasil.
O samba é filho da senzala. Sua matriz veio da África, 
junto com os negros trazidos para cá como escravos, 
para trabalhar nas lavouras de cana e café. Durante três séculos, 
o som dos tambores e batuques ecoou pelas fazendas do Nordeste, do Rio de Janeiro e São Paulo.

A socióloga Olga Von Simsom é professora da universidade 
de campinas e uma especialista no assunto. “Na verdade, 
todos os sambas do Brasil vêm de uma influência de Angola. 
Em cada local que eles se fixavam saía um samba diferente, 
ao se misturar com as tradições locais”.

Os historiadores estimam que pelo menos sete milhões 
de africanos entraram no Brasil entre 1550 e 1855. 
A maioria vinha de regiões rurais de Angola e 
entravam no país pelos portos de Salvador e do Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro, os negros desembarcavam no cais do Valongo, 
construído especialmente para descarregar escravos, 
como conta o historiador André Diniz. “O cais do Valongo 
foi construído em 1811, justamente para tirar os negros que 
ficavam na Praia do Peixe, atual Praça XV, que ficavam 
expostos ali, acorrentados. Os brancos, que queriam escravizar, 
mas não queriam que a população que chegasse pelo nosso 
cais visse aquela barbaridade que fizeram com toda uma 
população negra africana”.
No início do século XX, o local foi aterrado. Do antigo cais, 
hoje restam apenas ruínas, que fazem parte do patrimônio 
histórico da cidade. A poucos metros, outro lugar guarda parte 
da memória dos escravos: o cemitério dos pretos novos.
No final da década de 1990, um casal de empresários cariocas 
comprou a área para construir uma casa. Quando a obra começou, 
foram descobertas diversas ossadas de negros que foram 
enterrados no local. Eram negros que morriam na viagem da 
África para o Brasil ou assim que chegavam. Os corpos eram 
jogados em valas comuns, incendiados e sobre eles 
era depositado lixo.
A área foi transformada em museu e hoje guarda ossos 
e objetos pertencentes aos escravos.
Escravo não tinha direito a nada, trabalhava de sol a sol, 
sob a ameaça da chibata, mas nem o sofrimento foi capaz 
de apagar a alegria. Os negros insistiam em batucar e cantar. 
Talvez venha daí a inspiração para a letra do samba da benção, 
bela composição do poeta Vinícius de Moraes, 
feita em parceria com Baden Powell.
“É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração”
Há registros de batuques em todos os lugares 
onde tinha os escravos, mas será que o samba 
tem um berço? Há um fato com que todos concordam: 
um dos primeiros lugares onde surgiu essa manifestação 
cultural foi no Recôncavo Baiano. A terra do samba de roda.
O recôncavo é a área que circunda a baía de todos 
os santos, onde está a cidade de Salvador e a escola 
de dança da Funceb, a Fundação Cultural do Estado 
da Bahia. O samba de roda é um gênero que nasceu 
nos canaviais do recôncavo, nos tempos do Brasil colônia.
Clécia Queiroz é pesquisadora, bailarina, cantora, 
e professora de dança da Universidade Federal de Sergipe. 
Ela explica que, nos dialetos africanos, a palavra samba 
tem diversos significados. “Samba significa orar, rezar. 
O candomblé é de caboclo, ele é muito aparentado 
do nosso samba de roda. O candomblé de angola 
ele tem um orixá que se chama samba.
O batuque, o canto e a dança também fazem parte 
dos rituais do candomblé. São formas de louvar os santos. 
“Samba também vem de uma raiz multilinguística 
chamada semba, que significa dar um giro em torno 
do próprio umbigo. O samba significa também brincar, 
cabriolar, divertir-se como um cabrito. Eu costumo dizer 
que essa diversão começa pela cabeça e pelos ombros e vai 
descendo pela cintura, chegando até os quadris, passando 
pelas pernas, chegando até os pés. Quando a gente percebe, 
está brincando como um cabrito, quebrando como um cabrito, 
sambando como um cabrito e cabrito samba?”.
Alguns batuques e danças originados no Brasil colonial foram 
levados para Portugal. Na Europa, os tambores afro-brasileiros 
ganharam a companhia de instrumentos de corda, como a viola 
e o cavaquinho. Essa mistura resultou no samba de roda, 
que tem um ritmo próprio, marcado pelos instrumentos de 
percussão e pelas palmas, como explica o músico Marcos Bezerra. 
“Se você observar, a palma no samba de roda, é que 
embala o samba. Aqui é como se fosse a clave, como se fosse um guia”.
Com o toque das congas e pandeiros, o batuque vai 
ganhando corpo. A melodia é ditada pelos instrumentos 
de corda. Antigamente, só se tocava com a viola machete, 
criada no Recôncavo Baiano justamente para o samba de roda. 
Hoje, quase não vê mais essa viola, que foi substituída pelo o violão.
Como toda música popular, as letras do samba de roda são 
simples e retratam o cotidiano de quem vive no recôncavo. 
“Então, evidentemente, se esse samba nasce na zona rural, ele 
vai falar de boi, de cana. Então, esse é o universo. É esse universo 
que vai aparecer em todo o samba. O miudinho passa 
bem que não sai do chão. Quase que você não tira o pé do chão”.
As alunas da Funceb, além do samba de roda, aprendem 
outros ritmos afro-brasileiros. Assim, dão continuidade 
ao legado que receberam de seus antepassados.

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