1 de março de 2014





“As Biografias de Agostinho da Silva” por António Cândido Franco

Agostinho da Silva mereceu até agora consistentes estudos culturais e filosóficos, 
como aqueles que se devem a Romana Valente Pinho, Helena Briosa, Miguel Real, 
Amon Pinho, Paulo Borges, Artur Manso, João Maria de Freitas Branco, a que se 
podem e devem acrescentar as investigações de Renato Epifânio, Rui Lopo, 
Ricardo Ventura e outras que aqui me escapam, todas por certo valiosas, 
entre livros publicados e trabalhos académicos.
Está ainda porém por fazer a grande biografia que Agostinho da Silva merece. 
Houve até agora sinopses biográficas de valor, como aquelas que nos deram 
Artur Manso, Romana Valente Pinho e Helena Briosa, mas uma biografia 
em sentido pleno, como escrita inteira da vida, concentrando em exclusivo a 
atenção de quem escreve, nunca foi até agora, tanto quanto sei, tentada.
Não deixa a situação de ser surpreendente, quer porque Agostinho foi ele 
próprio um cultor primoroso do género desenvolvido por Plutarco, dando 
a lume dezenas de biografias, o que podia desde logo ter estimulado nos seus 
estudiosos a vontade de o brindar com um trabalho no género, quer porque 
viveu uma vida aventurosa de oitenta e oito anos, distribuída por inúmeros lugares 
e repleta de episódios cheios de sainete, que chegam para fazer dessa vida, 
estou em crer, a mais rica e colorida que encontramos entre os grandes 
escritores portugueses do século XX.
É possível que uma tal falha, no meio de razões doutra ordem, mais do 
interesse imediato dos investigadores, se deva em boa medida à longa 
ausência de Agostinho da Silva no Brasil, num período que cobre mais 
dum quarto de século e que desde logo se constituiu como um sério 
obstáculo à reconstituição de parte importante da sua vida, levando 
primeiro ao desânimo e depois à desistência de todo aquele que 
chegou a conceber para esta vida um tal projecto de escrita.
Agostinho é um gigante, que não se pode medir com o palmo comum. 
Até nisto de biografias, este homem é anormal. Se até hoje não 
há biografia digna dele, de futuro haverá muitas, até porque Agostinho, 
ao modo dos seus gatos, não teve apenas uma vida mas várias. 
Quantas biografias neste homem! Sucedem-se em número infinito! 
Ele próprio disse algures, a propósito da sua vida: Quanta biografia 
possível por aí fora. E quando eu me pergunto qual foi a minha 
biografia até hoje, eu não sei. Não tive biografia nenhuma, tendo tido várias. 
Venham elas; chegou o momento de passar do desânimo ao entusiasmo.

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