15 de outubro de 2011

Literatura brasileira


Lembrança de Morrer
 poema de Álvares de Azevedo, 
parafraseado por Aletho Alves 
(estudante da 2ºsérie do Ensino Médio)
 
Quando eu morrer, não chorem por mim. Não levem flores nem entoem missas fúnebres. Eu deixo a vida como quem se livra de um fardo. Só sentirei saudades do carinho da minha mãe, do meu pai e de alguns poucos amigos que não zombavam ou duvidavam de minha crença quando, acometido por febres altas, delirava. Se choro é pela virgem a qual nunca beijei, mas que me deu forças para viver, esperançoso de um um dia gozar do seu amor.  Na minha lápide desejo que escrevam: foi poeta, sonhou e amou na vida. Peço a minha alma que zele pelo meu túmulo e quando anoitecer abra espaço para a lua chorar sobre ele.

Poema 

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minhalma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade... é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave daurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!



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