30 de junho de 2011

Agostinho da Silva em Quadras Inéditas

Divino Espírito Santo

senhor do imprevisível

me toma pois da verdade

só quero o que for incrível.

CAS apoia biblioteca digital: domínio público

A REDE GLOBO NÃO DIVULGA NUNCA ! ! !
Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos. Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:

· Ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci ;
· escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
· Ler obras de Machado de Assis Ou a Divina Comédia;
· ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA
· e muito mais....
Esse lugar existe!
O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso,basta acessar o site:

www.dominiopublico.gov.br

Só de literatura portuguesa são 732 obras!
Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acesso é muito pequeno. Vamos tentar reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes, conhecidos e alunos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura.
Divulgue para o máximo de pessoas!
principalmente aos nossos professores e alunos.

poétiCAS

Compreendi, então,
que a vida não é uma sonata que,
para realizar a sua beleza,
tem de ser tocada até o fim.
Dei-me conta, ao contrário,
de que a vida é um álbum de mini-sonatas.
Cada momento de beleza vivido e amado,
por efêmero que seja,
é uma experiência completa
que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e amor
justifica a vida inteira.

(Rubem Alves)

29 de junho de 2011

Ao amigo Conceição Silva

...um jardineiro planta jardins
noutras terras com outras sementes
e cultiva suas flores em você e em mim.

Ele cuida de nós paciente,
esperando nossos brotos,
aguardando a primavera,
pois tem certeza de que
as nossas flores um dia vão nascer
em paz

vão florescer
e seu perfume vai se espalhar.


E será festa em cada coração
em que nascer a flor
plantada pelo Mestre com amor.

... lembro das tardes que passamos juntos
mas eu sei
que você está bem agora.


Só que esse ano o verão acabou
cedo demais.

(Lúcia Helena Sá)

28 de junho de 2011

In Memoriam: Revisitando o pensamento do professor José Luis Poças Leitão Conceição Silva

O Presidente Honorário da Casa Agostinho da Silva
- nosso amigo e professor luso brasileiro -
José Luís Poças Leitão Conceição Silva
está na presença do Deus infinitamente eterno.

Saudades já marcam nossa travessia mundana.

Sua existência, sobretudo, intelectual esteve à frente de nossos tempos.

Permanecerá exemplo a seguir em nossas ações.

Façamos valer o que sempre perseguiu: a verdadeira e efetiva reforma agrária.

Que seja modelo para os políticos de boa vontade.




Os estudiosos do problema da fome declaravam no final do século XX (segundo milênio) que no século XXI a alimentação de toda a população mundial estaria garantida não só porque a produção de alimentos seria suficiente, mas também, que a sua distribuição equitativa estava garantida. Perspectiva que foi acordada amplamente pela Food and Agriculture Organization (FAO). Infelizmente, parece que está sucedendo precisamente o contrário.




O problema da fome em quase todo o mundo tende a agravar-se. Dos quase sete bilhões de habitantes a que em breve chegará a população mundial, pelo menos dois bilhões passam fome ou são mal alimentados. Esse extraordinário número de indivíduos se encontra, sobretudo, na África e na Ásia. Ao contrário da Europa e das Américas que têm alimentação farta e podem até mesmo exportar. No entanto, também ali mesmo, registram-se problemas por falta de poder de compra de alimentos, como, por exemplo, nos EUA onde cerca de trinta milhões de pessoas recorrem à distribuição de “sopa gratuita” para evitar ou, pelo menos, amenizar a fome.




Esse grave problema é, constantemente, analisado e discutido e propostas de solução são apresentadas. Contudo, não se chega jamais a uma solução definitiva. Parece mesmo que o velho Malthus tinha razão e acertou na sua previsão. Mas, em minha opinião (já publicada várias vezes) a solução existe podendo e devendo ocorrer a partir do Brasil.




Essa posição é sustentada por um estudo experimentado e exposto no livro Manejo Ecológico do Solo (1979) da professora Ana Primavesi. Grande mestra no estudo da agronomia que antes de morrer publicou uma espécie de Relatório no qual se queixava da total falta de iniciativa por parte do Governo e dos órgãos técnicos especializados em tentar, de qualquer maneira, levar à prática a sua proposta, provando que sua adoção em todo o mundo acabaria, definitivamente, com o problema da fome.




Eu tentei de várias formas conseguir alguém com condições para praticar essa nova tecnologia e que se interessasse pelo assunto, mas também não consegui qualquer apoio. Contatei com diversas organizações desde o “Movimento dos Sem Terra” (MST) ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), mas nada consegui. Agora, no entanto, como a idade e o estado de saúde já não me vão permitir ir para o campo e orientar um grupo de trabalhadores interessados no novo processo usando a tecnologia estudada por Ana Primavesi, resolvi expor aqui o melhor que puder, resumidamente, o esquema de trabalho a realizar e tentar a divulgação e a sua publicação no MIL, mantendo, assim, a esperança de iniciar a salvação da humanidade, riscando de seu destino a miséria provocada pela fome. Na tecnologia proposta por Ana Primavesi, dispensa-se o uso de mecanização pesada, agrotóxicos e monocultura em áreas grandes.




Um grupo de agricultores (mais de 4) trabalhando coletiva e comunitariamente executará o projeto. Não haverá “patrão” comandando (um trabalho executado por um grupo de trabalhadores comandados por um patrão é uma prática que lembra a escravatura). O solo será cavado com enxada até uns 15 cm de profundidade e ajuntado para formar camalhões (canteiros) com o máximo de largura de 1,8 metros (180 cm) considerando-se 1,6 metros (160 cm) a área produtiva. O camalhão terá cerca de 35 a 40 centímetros de altura.




A análise do solo levará à necessidade de juntar minerais (não industrializados) e matéria orgânica. Para garantir a fertilidade os camalhões serão irrigados. Ana Primavesi diz no seu livro que um solo assim preparado terá por área de 0,3 metros quadrados (30 decímetros quadrados) e 50 centímetros de profundidade, cerca de 5 trilhões de microorganismos. São eles que garantem a fertilidade. Todo o camalhão será povoado de minhocas cujo número deverá atingir, antes de um ano de trabalho, 400 a 500 por metro quadrado. Toda a matéria orgânica se transformará em húmus de minhoca. As minhocas aproveitarão, também, as raízes e restos das plantas produzidas, em húmus.




Deve, ainda, juntar-se matéria orgânica vinda de fora, sobretudo lixo orgânico de povoações, para garantir a abundância desse ótimo fertilizante. No camalhão serão plantadas todas as espécies de vegetais adaptados ao clima da região e de acordo com o plano de exploração desejado pelos produtores. Como toda a superfície do camalhão tem o mesmo grau de fertilidade, as plantas, até mesmo árvores e arbustos, serão plantadas o mais perto possível, respeitando apenas a incidência do sol. Do que for produzido, uma parte será para o consumo humano (alimento) e outra para a pecuária. O que restar será para as minhocas.




Admite-se, e tentará provar-se, que a produção nos camalhões poderá ser até dez vezes maior do que de uma área igual cultivado pelo sistema tradicional. Pode concluir-se que, com esta tecnologia, a produção mundial de alimentos que hoje poderá atingir no máximo 8 bilhões de pessoas, alimentará mais de 20 bilhões, mesmo que a área utilizada se reduza a metade da atual. Porém, acredito que muito dificilmente a população mundial poderá atingir este número por razões de dificuldades de povoamento diferentes das da alimentação.

A História de Portugal por Helena Sanceau

História Portugal: aquele povo deixou de compreender o significado


Uma das funções da História é assinalar os fatos memoráveis e os exemplos para o presente e futuro. É por estes argumentos que sempre insisto em vos recontar algo do passado.
Na sua obra «Capitães do Brasil» , a escritora inglesa Helena Sanceau, apresenta-nos um quadro sugestivo da epopeia portuguesa em remotas paragens:

«De um lado do Atlântico vemos um pequeno reino agrícola, cuja população era inferior a 2 milhões, mas chegava para lavrar os seus campos. Este pequeno reino, que não possuía riquezas nenhumas, toma a seu cargo a guarnição de seis ou sete praças fortes em Marrocos, mantém uma cadeia de fortalezas e entrepostos comerciais desde África até ao Extremo Oriente, domina o Oceano Índico com seus navios, funda um estado junto da costa indiana e impõe o tributo a uma dúzia de reis hindus. E por uma forma ou por outra consegue fazer isto tudo».
Uma nação completamente ocupada com uma tarefa, acrescenta a escritora, que poderíamos mesmo dizer, demasiado pesada para o poder do Homem! E pergunta Sanceau:


«como pode este povo ocupar-se ainda do Brasil? É que os portugueses nunca tiveram quaisquer dúvidas de poder fazer uma coisa que quisessem. Os portugueses do século XVI tinham deixado de compreender o significado do impossível!»


Vossas palavras?



Fonte de informação


26 de junho de 2011

Lucubrações Lusófonas

Estando a trabalhar, às altas horas, as ideias foram acontecendo e correndo a uma velocidade alucinante, verdadeiras lucubrações.

O dia de S. João fez-me recordar a minha cidade natal, o Porto, onde esta festa acontece efusivamente.

Perto desta cidade está Guimarães, onde a Batalha de S. Mamede foi ganha no dia De S. João.

Aí começou Portugal, aí começaram as Festas. Aí começou a Lusofonia.

No entanto, meu coração noturno e inquieto sentiu “tiraram a lusofonia da lusofonia”.

A tiraram

O meu sono era grande, tanto lia da esquerda para a direita como da direita para esquerda, vi então esta expressão ao contrário

Mara Rita

Este nome significa Severa Alegre. Este parecia o estado do meu coração constrangido com a perda desse espírito entre muitos.

Ah, como eu queria que não fosse assim, para que a alegria pudesse estar em primeiro lugar. Para isso bastava colocar os pontos nos is e os is. E ficou

Maria Rita

Mas isso é o que este nome significa: a primeira na alegria.

Lusofonia, Porto, S. João, Maria Rita, foi inevitável lembrar-me da canção do grupo angolano Duo Ouro Negro, onde Maria Rita me pareceu a lusofonia personificada. Aproveitem e vejam imagens bonitas da minha cidade.


CAS cultural

Espetáculo das Festas Juninas 29 de Junho, Dia de São Pedro
ESPETÁCULO DAS FESTAS JUNINAS
29 DE JUNHO, DIA DE SÃO PEDRO






José JPeralta

É impressionante a força popular das Festas Juninas, no Brasil.
Ao chegar o mês de junho, as Festas desabrocham, por toda a parte. Explodem como um vulcão, espargindo alegria por toda a agente.
Nas cidades, nos campos e pelos sertões, as Festas Juninas desenvolvem-se com a mesma alegria, informal e contagiante. Reúne pessoas de todos os níveis sociais, solidariamente, divertindo-se num mesmo diapasão.
O povo brasileiro é um povo alegre e festeiro. Num mundo monetarizado e consumista, as Festas Juninas resistem cada vez mais revitalizadas, nos braços do povo, quebrando barreiras de espaços e de classes sociais. As Festas Juninas são festas de toda a gente.




As Festas Juninas, no Brasil, teoricamente, encerram-se com a Festa de São Pedro, no dia 29. Nada impede, no entanto que as Festas continuem até o começo de Julho, como acontece, em muitos lugares.
Em muitas regiões, há festejos organizados pelas autoridades públicas, em grandes espaços, e outros organizados pelas instituições, em datas diferentes. São eventos que atraem muita gente.
As Festas Juninas são espetáculos muito ricos e diversificados.
Dos Festejos no Brasil, fazem parte: a dança complexa da Quadrilha, o casamento caipira, as vestes típicas campestres, as comidas típicas, as músicas típicas, as bandeirolas, a fogueira e, eventualmente, o mastro de madeira roliça, os bambus verdes, as barracas, as brincadeiras, o bingo beneficente, o eventual churrasco, etc.
Guloseimas, brinquedos, brindes etc são oferecidos em barracas. Em muitos lugares cada barraca especializada é oferecida a uma Instituição Social.
As Festas Juninas têm também espetáculos de fogos típicos, não explosivos, como o vulcão, etc.
O lugar em que se realiza a Festa Junina é chamado ARRAIAL.
A sanfona e a viola são os instrumentos mais destacados no arraial.
No grande espetáculo das Festas Juninas, os personagens principais são as pessoas vestidas a caráter. As celebridades são as pessoas.
São as pessoas que abrilhantam a Festa.
Por todo o País, as Festas Juninas atraem muitos milhões de pessoas, nas cidades, grandes e pequenas, no campo e nos sertões mais longínquos.
É a nossa Festa mais democratizada e mais intensamente popular, onde todos se divertem por igual, sem etiquetas.
Com quintal ou sem quintal, milhões de famílias festejam as Festas Juninas também em família, reunindo os amigos.
Brancos, negros, índios e morenos sempre se confrater nizaram, nestas festas, onde todos convivem e se divertem com alegria.
Nas Festas de São Pedro, padroeiro das viúvas e dos pescadores, compete às viúvas a preparação dos festejos, com a ajuda de todos.
Na frente das casas, onde alguém tem o nome de Pedro, os moradores devem acender uma fogueira.
Neste dia, os pescadores fazem desfile festivo de barcos, nas águas, onde as houver.
Onde não há rio ou mar, as pessoas fazem em simulacros de barcos, em caminhões.
Em muitos lugares a Festa de São Pedro é encerrada com Missa Campal, seguida de show de artistas.
Estas são algumas das muitas e belas heranças, alegres e exuberantes que os portugueses nos legaram e que o povo revitalizou.

jornalístiCAS

Por que vale a pena ouvir Marina Silva
Eliane Brum

Gosto de acompanhar a trajetória de Marina Silva porque ela soa como algo novo em um momento histórico do Brasil em que até o que se prometia diferente ficou dolorosamente igual. Acredito que, mesmo para seus (muitos) inimigos, é possível (sempre é) discordar de suas ideias, mas acho difícil duvidar, pelo menos até hoje, de sua integridade ética.

E ética, convenhamos, é algo que foi varrido do horizonte da política brasileira, o que causa, a mim e a muitos, um bocado de desespero.

Aprecio a delicadeza firme de Marina Silva, que antes de se tornar política gastou as mãos e a saúde nos seringais do Acre, foi empregada doméstica em Rio Branco e, com grande coragem e esforço pessoal, se formou professora. Respeito sua força num corpo tão frágil, contaminado por mercúrio e solapado por três hepatites, cinco malárias e uma leishmaniose; sua voz que vem de uma garganta arranhada, mas que se expressa com tanta inteligência apesar de só ter se alfabetizado aos 16 anos.

Por isso, recomendo que assistam ao Roda Viva (TV Cultura) em que Marina Silva foi a entrevistada, na segunda-feira, 13/6. Com o braço direito enfiado numa tipoia porque uma ressonância magnética constatou uma ruptura parcial no músculo, ela usa a esquerda para dar ênfase às palavras com gestos elegantes. Sim, Marina é elegante, não daquele jeito que se compra em loja, mas daquele que emana da inteireza de sua postura na vida. Vale muito a pena abrir um espaço na rotina e escutá-la – o link está aqui, basta clicar. Especialmente o segundo e o terceiro blocos são muito esclarecedores em mais de um sentido. Porque, acho importante repetir, estamos diante de uma encruzilhada no Brasil.

Se o país fosse uma pessoa, estaria naquele momento da vida em que pode ir por aqui ou por ali, e qualquer que seja a decisão tomada, ela vai definir o resto da sua existência – e o bem-estar ou não de seus descendentes. Se não compreendermos isso e não nos posicionarmos, vamos deixar que outros decidam a nossa vida, que os “outros” de sempre decidam o futuro do país com a costumeira pequeneza de ideais (e de ideias) e o desrespeito pela coisa pública que temos testemunhado no cotidiano do Congresso e de alguns setores do governo.

O novo (e nocivo) Código Florestal – que ainda pode ser rejeitado no Senado se a sociedade civil fizer o seu papel – e a licença para a usina de Belo Monte são questões estratégicas, que deveriam estar sendo discutidas nas ruas, com a família na mesa do jantar, nas escolas e nas universidades – e não estão. E Marina Silva é uma das poucas pessoas públicas que tem se dedicado a desmascarar com propriedade as mentiras que circulam por aí. Mentiras que circulam há tanto tempo que colam, mesmo em gente inteligente, como verdade. E são usadas com a habitual má fé por aqueles que só pensam na urgência do seu próprio bem-estar. Como disse Marina Silva, “as políticas para o Brasil devem ser de longo prazo, mas os políticos são de curto prazo”.

É bastante impressionante, mas, ainda hoje, para parte da população as questões ambientais soam como algo descartável, uma espécie de luxo, de assunto menor, ao qual se pode prestar atenção ou não. Parece não compreender que a escassa preocupação com os recursos naturais e as fortes pressões contrárias à sua preservação interferem na sua vida já. Esquece-se de todas as perdas que já sofreu no dia-a-dia por causa da contaminação do meio ambiente e se acostuma com qualquer coisa, até mesmo com o fedor do rio que banha sua cidade e a fuligem que cobre sua pele depois de um dia de trabalho.

Ambientalistas são tachados de “ecochatos”, como se estivessem atrapalhando uma festa – e não tentando salvá-la. (Assim como colunistas que voltam à questão com frequência.) Aqueles que lutam pela preservação ambiental são imediatamente colocados, pelas raposas de plantão, como se fossem contra o desenvolvimento e contra a agricultura e a pecuária. E o mantra é reproduzido pela manada de sempre. Quando, na verdade, são apenas os setores mais atrasados do agronegócio que defendem teses como a do novo Código Florestal, já apelidado de “Código de Devastação Florestal”.

Só lembrando: entre outras aberrações, o texto perdoa quem ocupou e desmatou áreas ilegais até 2008 e facilita o cultivo e a pecuária em zonas de proteção ambiental, inclusive nascentes. A mera discussão do novo Código pelos deputados causou a multiplicação do desmatamento no Mato Grosso, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Na semana de aprovação do texto pela Câmara, cinco agricultores ligados à preservação da Amazônia foram assassinados no Pará e em Rondônia – uma prova cabal de que o Brasil ainda é um país mais velho do que novo em muitas de suas práticas.

Se o novo Código for aprovado, proteger as florestas se tornará uma exceção – e não a regra. Homens e mulheres que lutam em defesa do meio ambiente nos rincões do país, como afirma Marina Silva, até agora tinham pelo menos a lei ao seu lado. Se o novo Código Florestal for aprovado também no Senado, aqueles que hoje arriscam (e muitas vezes perdem suas vidas) para proteger a floresta estarão na ilegalidade.

O agronegócio moderno (e sim, ele existe no Brasil) sabe que só vai vender no Exterior quem tiver respaldo ambiental. Quem pratica a agricultura predatória estará condenado no futuro próximo, é um Neandertal num mundo assombrado pela devastação do planeta. A questão é falsamente colocada – de propósito, para confundir a população – como uma oposição entre o agronegócio e o meio ambiente. De fato, o que há é uma discussão em torno da escolha dos rumos do país, uma opção entre manter as velhas práticas de exploração indiscriminada dos recursos naturais, como se não existissem outros caminhos, ou incluir o Brasil entre os países engajados no desenvolvimento sustentável.

O manejo dos recursos naturais – e especialmente da água – tem movido as discussões sérias do planeta. Até grandes predadores têm percebido que, se nada fizerem, vão ter problemas ainda maiores logo ali na frente. Por que a China, a nova potência econômica do mundo, mas ameaçada pela degradação ambiental e a desertificação, tem como prioridade a construção da “Grande Muralha Verde” (em alusão à histórica Muralha da China), com o objetivo de reflorestar 356 mil quilômetros quadrados de terra até 2050? Alguém conhece competidores mais agressivos na economia internacional que os chineses? Alguém acha que eles querem reflorestar porque acham as árvores bonitas ou precisam de sombra? Óbvio que não. É por pragmatismo e visão de futuro.

Enquanto isso, no Brasil, vende-se o retrocesso embalado em desenvolvimento. Em vez de o país ocupar uma posição estratégica nesse momento histórico do mundo, na medida em que apesar da devastação ainda pode contar com recursos naturais importantes, parece existir no Brasil um esforço para que o país volte para trás, apenas para que os mesmos de sempre não percam seus privilégios. E o mais incrível é que pessoas decentes caem nesse conto da Carochinha. É para estas, as decentes, que escrevo, na tentativa de que comecem a duvidar das máximas repetidas a exaustão pelos suspeitos de sempre.

Quando a proposta é manter as conquistas e aprimorar a legislação ambiental – em vez da libertinagem difundida no novo Código Florestal –, logo surge aquele discurso de que a riqueza do Brasil são as commodities (mercadorias de origem, matérias-primas) e que os “gringos”, sempre eles, querem que o Brasil deixe de ser uma potência agrícola. Essa conversa é mais falsa que uma nota de três reais, mas cola. O pior é que cola.

Parte da população não percebe que a maior commodity do Brasil não é a soja, a carne ou o café, como tem alertado o recém criado Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável. A mais importante commodity do Brasil é a água. Sem água, qualquer um percebe que não há nem agricultura. E as mudanças propostas pelo novo Código Florestal colocam a grande reserva hídrica do Brasil em risco. Ou seja, o discurso mais retrógrado deste país, vendido como sendo “em prol do desenvolvimento”, é aquele que quer acabar com a riqueza estratégica do país, aquela capaz de garantir ao Brasil um lugar de liderança no cenário mundial. É por isso que esta não é uma queda de braço entre ambientalistas e ruralistas – mas uma urgência de toda a sociedade.

Comecei esta coluna falando de Marina Silva porque ela tem representado uma nova forma de fazer política – depois da corrosão ética do PT. Não sei se ela fica ou não no PV, que por enquanto tem preferido ser um partido de ocasião, nem como articulará sua próxima candidatura. O que acho importante reconhecer em sua trajetória é o fato de que ela – até agora – tem feito política para além do fisiologismo, do troca-troca, da barganha e do imediatismo. Está aí, brigando pelas questões que acredita e é a principal voz contra o novo Código Florestal e a licença de Belo Monte. Com consistência, com dados, com história.

Afinal, em sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente (2003 a 2008) – de onde saiu pela força de pressões poderosas, internas e externas – o desmatamento anual na Amazônia caiu de 27 mil quilômetros quadrados para menos de 7 mil quilômetros quadrados. Em seu mandato foi apreendido 1 milhão de metros cúbicos de madeira ilegal. “O equivalente a uma fileira de caminhões carregados de toras unindo São Paulo ao Rio de Janeiro”, exemplifica. É importante ouvir Marina Silva porque ela se expressa com a clareza de quem sabe o que diz – porque vive o que diz.

Sabiamente Marina Silva tem conseguido manter o fato de ser evangélica na esfera do privado. No momento em que agir diferente, ela tem consciência de que perderá o apoio da parcela urbana, jovem e intelectualizada que se alinha ao seu lado e lhe garantiu parte significativa dos quase 20 milhões de votos na última eleição presidencial. Afinal, no pleito de 2010, não foi ela, mas sim José Serra e Dilma Rousseff que fizeram aquele papelão no segundo turno, submetendo-se aos interesses religiosos, em especial os da Igreja Católica.

É por isso que vale a pena ouvir o que Marina Silva tem a dizer. Porque ela está entre os poucos políticos em atuação que tem um discurso consistente, alicerçado na trajetória pessoal, sobre algo que vai mudar talvez não a nossa vida – mas a de nossos filhos, netos e bisnetos. Sem a participação da sociedade, que vai muito além do voto, a democracia não passa de uma ficção. Por isso é que já passou da hora de falar de meio ambiente com sua família na mesa do jantar. Porque botar a questão ambiental na mesa, no dia-a-dia, não é uma escolha, é um dever. Significa debater e decidir o que queremos ser e qual legado queremos deixar. Eu e você. Nós.

ELIANE BRUM

Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).

23 de junho de 2011

Novas Cartas Baianas

Novas Cartas Baianas
POBRE BAHIA
Por Emanuel Medeiros Vieira


Não, não se enganem com a visão estereotipada e midiática: a Bahia não é só Ivete Sangalo, Daniela Mercury, bandas de pagode e de axé, carnaval, “macumba para turista”, e à pasteurização dos melhores valores.
Essa visão falsa serve ao turismo banalizado e à própria exploração sexual de crianças e de adolescentes.
A real? A BAHIA VERDADEIRA? É a da concentração de renda. Da desigualdade. Da miséria.
(Lógico, há o “sagrado” e a beleza não comercializados – que poucos enxergam.)
Exagero?
Dados divulgados pelo IBGE, de 2010, informam que 2,4 milhões de baianos, ou 17,7% da população do Estado, estão em situação de miséria, pois vivem com uma renda mensal per capita de até R$ 70.
É o Estado com maior contingente de pessoas com essa faixa de renda: 14,8% dos miseráveis do País estão na Bahia, de acordo com informações do site Bahia notícias.
A Bahia é a sétima economia brasileira.
E grande parte de sua população vive abaixo da linha da pobreza.
Os mais pobres temem perder o Bolsa-Família.
Nessa época de São João – festa tão enraizada no Nordeste – lembro do grande sanfoneiro Luiz Gonzaga: uma esmola para o homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.
A esmola não gera dignidade.
Não querendo ideologizar minha fala, não seria melhor para população do semi-árido baiano e de outras regiões se o governo criasse programas para facilitar o desenvolvimento?
E quando, nos meus textos, insisto na condenação à corrupção, qualificando-a de crime contra a vida, muitos dizem que é visão de pequeno burguês ou de moralismo “udenista”.
É que não conhecem a região.

(Salvador, junho de 2011)

extra-CAS: divulgação de evento cultural em Brasília

Palestra pública
“O domínio da sua vida”
por Dr. Adilson Rodrigues
Centro Cultural Rubem Valentim – Cruzeiro Velho, DF (próximo à Administração Regional do Cruzeiro)
Dia 09/07/2011 – sábado – 14:30
Contato: 99745089

22 de junho de 2011

poétiCAS

Dende aquí vexo un camiño

que non sei adónde vai;

polo mismo que n'o sei,

quixera o poder andar.

Istreitiño sarpentea

antre prados e nabals,

i anda ó feito, aquí escondido,

relumbrando máis alá.

Mais sempre, sempre tentándome

co seu lindo crarear,

que eu penso, non sei por qué,

nas vilas que correrá,

nos carballos que o sombrean,

nas fontes que o regarán.

Camiño, camiño branco,

non sei para dónde vas;

mais cada vez que te vexo,

quixera poderte andar.

Xa collas para Santiago,

xa collas para o Portal,

xa en San Andrés te deteñas,

xa chegues a San Cidrán,

xa, en fin, te perdas... ¿quén sabe

en dónde?, ¡qué máis me dá!

Que ojallá en ti me perdera

pra nunc amáis me atopar...

Mais ti vas indo, vas indo,

sempre para donde vas,

i eu quedo encravada en onde

arraigo ten o meu mal.

Nin fuxo, non, que anque fuxa

dun lugar a outro lugar,

de min mesma, naide, naide,

naide me libertará.


(de Follas Novas/As viuvas dos vivos e as viuvas dos mortos)

CAS Cultural: Eduardo Galeano . Sangue Latino (2009)



Um dos mais importantes escritores/pensadores no mundo de hoje.
24 minutos que valem mil.

19 de junho de 2011

Urge mudar de paradigma. Para que seja viável haver futuro.

Paulo Borges

publicado em Revista Cultura ENTRE Culturas

Urge mudar de paradigma. Para que seja viável haver futuro.
Por um novo paradigma mental, ético e civilizacional

Vivemos hoje uma profunda crise do paradigma antropocêntrico que dominou a humanidade europeia-ocidental e se mundializou: nele o homem vê-se como centro e dono do mundo, reduzindo a natureza e os seres vivos a objectos desprovidos de valor intrínseco, como meros meios destinados a servir os fins e interesses humanos [1]. Se o surgimento da ciência e da tecnologia moderna obedeceu, sobretudo após as duas Revoluções Industriais, à crença no progresso geral da humanidade mediante o domínio da natureza e a exploração ilimitada dos seus recursos, incluindo os seres vivos, vive-se hoje a frustração dessa expectativa de um Paraíso terreno científico-tecnológico e económico: o sonho comum aos projectos liberais e socialistas converteu-se no pesadelo da persistente guerra, fome e pobreza, da crise económico-financeira, da destruição da biodiversidade, do sofrimento humano e animal e da iminência de colapso ecológico. Muitos relatórios científicos mostram o tremendo impacte que o actual modelo de crescimento económico tem sobre a biosfera planetária, acelerando a sexta extinção em massa do Holoceno, com uma redução drástica da biodiversidade, sobretudo nos últimos 50 anos, a um ritmo que pode chegar a 140 000 espécies de plantas e animais por ano, devido a causas humanas: destruição de florestas e outros habitats, caça e pesca, introdução de espécies não-nativas, poluição e mudanças de clima [2].
Manifestação particularmente violenta do antropocentrismo tem sido o especismo, preconceito pelo qual o homem discrimina os membros de outras espécies animais por serem diferentes e vulneráveis, mediante um critério baseado no tipo de inteligência que possuem que ignora a sua comum capacidade de sentirem dor e prazer físicos e psicológicos (a senciência, ou seja, a sensibilidade e o sentimento conscientes de si, distinto da sensitividade das plantas) ou o serem sujeitos-de-uma-vida, consoante as perspectivas de Peter Singer e Tom Regan [3]. A exploração ilimitada de recursos naturais finitos e dos animais não-humanos para fins alimentares, (pseudo-)científicos, de trabalho, vestuário e divertimento, tem causado um grande desequilíbrio ecológico e um enorme sofrimento. O especismo é afim a todas as formas de discriminação e opressão do homem pelo homem, como o sexismo, o racismo e o esclavagismo, embora sem o reconhecimento e combate de que estas têm sido alvo.
A desconsideração ética do mundo natural e da vida animal não só obsta à evolução moral da humanidade como também a lesa, lesando o planeta, como é particularmente evidente nos efeitos do consumo de carne industrial. Além do sofrimento dos animais, criados artificialmente em autênticos campos de concentração [4], além da nocividade da sua carne, saturada de antibióticos e hormonas de crescimento [5], a pecuária intensiva é um mau negócio com um tremendo impacte ecológico: a produção de 1 kg de carne de vaca liberta mais gases com efeito de estufa do que conduzir um carro e deixar todas as luzes de casa ligadas durante 3 dias, consome 13-15 kg de cereais/leguminosas e 15 000 litros de água potável, cuja escassez já causa 1.6 milhões de mortes por ano e novos ciclos bélicos (http://www.ambienteonline.pt/noticias/detalhes.php?id=7788); a pecuária intensiva é responsável por 18% da emissão de gases com efeito de estufa a nível mundial, como o metano, emitido pelo gado bovino, que contribui para o aquecimento global 23 vezes mais do que o dióxido de carbono; 70% do solo agrícola mundial destina-se a alimentar gado e 70% da desflorestação da selva amazónica deve-se à criação de pastagens e cultivo de soja para o alimentar; entre outros índices, destaque-se que toda a proteína vegetal hoje produzida no mundo para alimentar animais para consumo humano poderia nutrir directamente 2 000 milhões de pessoas, um terço da população mundial, enquanto 1 000 milhões padecem fome [6]. Isto leva a ONU a considerar urgente uma dieta sem carne nem lacticínios para alimentar de forma sustentável uma população que deve atingir os 9.1 biliões em 2050 [7].
Compreende-se assim a urgência de um novo paradigma mental, ético e civilizacional que veja que as agressões aos animais e à natureza são agressões da humanidade a si mesma, que não separe as causas humanitária, animal e ecológica e que reconheça um valor intrínseco e não apenas instrumental aos seres sencientes e ao mundo natural, consagrando juridicamente o direito dos primeiros à vida e ao bem-estar e o do segundo à preservação e integridade (no que respeita aos animais, Portugal possui um dos Códigos Civis mais atrasados, considerando-os meras coisas, o que urge alterar) [8]. Sem este novo paradigma, de uma nova humanidade, não antropocêntrica, em que o homem seja responsável pelo bem de tudo e de todos [9], não parece viável haver futuro.


[1] Kant considera o homem o “senhor da natureza”, que tem nele o seu “fim último” – Critique de la faculté de juger, 83, Paris, Vrin, 1982. O mesmo autor considera que os animais “não têm consciência de si mesmos e não são, por conseguinte, senão meios em vista de um fim. Esse fim é o homem”, que não tem “nenhum dever imediato para com eles” – Leçons d’éthique, Paris, LGF, 1997, p.391.
[2] Peter Raven escreve no Atlas of Population and Environment: "Impulsionamos a taxa de extinção biológica, a perda permanente de espécies, até centenas de vezes acima dos níveis históricos, e há a ameaça da perda da maioria de todas as espécies no fim do século XXI”. A equipa internacional liderada pelo biólogo Miguel Araújo, da Universidade de Évora, publicou recentemente um importante artigo na revista Nature sobre as consequências na “árvore da vida” das mutações climáticas antropogénicas: http://www.nature.com/nature/journal/v470/n7335/full/nature09705.html
[3] Cf. Peter Singer, Libertação Animal [1975], Porto, Via Óptima, 2008; Tom Regan, The Case for Animal Rights [1983], Berkeley, University of California Press, 2004, 3ª edição. Peter Singer segue a perspectiva utilitarista herdada de Jeremy Bentham e baseia-se na igualdade de interesses dos animais humanos e não-humanos em experimentarem o prazer e evitarem a dor, enquanto Tom Regan estende a muitos dos animais não-humanos a perspectiva deontológica de Kant, considerando-os indivíduos com identidade, iniciativas e objectivos e assim com direitos intrínsecos à vida, à liberdade e integridade. Cf. Os animais têm direitos? Perspectivas e argumentos, introd., org. e trad. de Pedro Galvão, Lisboa, Dinalivro, 2011.
[4] Cf. Peter Singer, Libertação Animal; Jonathan S. Foer, Comer Animais [2009], Lisboa, Bertrand, 2010.
[5] Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 75% das doenças mais mortais nos países industrializados advêm do consumo de carne.
[6] Cf. um relatório de 2006 da FAO, Food and Agriculture Organization, da ONU, Livestock’s Long Shadow: environmental issues and options: http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM
[7] http://www.guardian.co.uk/environment/2010/jun/02/un-report-meat-free-diet
[8] Para uma introdução às diferentes perspectivas e questões éticas e jurídicas relacionadas com a natureza e os animais, cf. Fernando Araújo, A Hora dos Direitos dos Animais, Coimbra, Almedina, 2003; Maria José Varandas, Ambiente. Uma Questão de Ética, Lisboa, Esfera do Caos, 2009; Stéphane Ferret, Deepwater Horizon. Éthique de la Nature et Philosophie de la Crise Écologique, Paris, Seuil, 2011.
[9] Cf. Hans Jonas, Das Prinzip Verantwortung, Frankfurt am Mein, Insel Verlag, 1979.

A CAS em torno da Galiza



Por Artur Alonso Novelhe

O mundo muda. Galiza Muda. O galeguismo também está a mudar ao ritmo das novas achegas, que dentro de diferentes campos, vão de seguro mudar paradigmas, tanto históricos, como políticos e, portanto, estratégicos.
A mudança histórica tem muito a ver com as evidências de continuidade que tanto no campo da arqueologia, como na toponímia, como da linguística, agora auxiliadas pela contribuição da ciência médica, se vem desenrolando nos últimos decénios.
Investigações e laboriosos estudos históricos e arqueológicos, como os efetuados pelos doutores Higino Martins Esteves, Pena Granha e Branca Fernandez Albalat entre outros, têm demonstrado a continuidade céltica da área atlântica em que se inclui a Galiza. Sendo o noroeste peninsular a matriz desse mundo. As achegas cientistas efetuadas, na Europa pelo doutor Sykes da Oxford University, ou o Trinity College na Irlanda, verificam cientificamente esta hipótese, segundo a esteira das iniciadas por Cavalli-Sforza. Do mesmo jeito se tem comportado a linguística nos seus diferentes estudos, desde os realizados por Robert Omnes, que reforçam a ideia de um pensamento cognitivo comum no mundo celta, ou mesmo do ponto de vista da Teoria da Continuidade Paleolítica referendada entre outros por Allinei, Benozzo e Xabiero Ballester, todas estas achegas científicas demonstram a continuidade cultural e linguística da área atlântica onde a Galiza Histórica e Contemporânea deve ser inserida de pleno direito. Neste campo também destacar os estudos do Prof. Martins Esteves, que dão originalidade ao nome céltico Callaica, com o significado de terra mãe, e os callaicos como filhos da mesma.
Este contínuo histórico vai seguir um percurso próprio durante a época romana, como estão a pôr em causa novas pesquisas, entre elas a realizada pelo professor Marcial Tenreiro da Universidade da Crunha. Não todo deve ser neste período atribuído à presença de Roma.
A já inegável irrupção do reino galego dos suevos, como primeiro reino independente a formar-se na Europa dentro dos limites do império romano, contempla agora essa continuidade de arraigo desde tempos paleolíticos e mesolíticos, ao adaptar, este reino, a sua divisão geográfico-administrativa das comarcas à realidade própria de povoamento ancestral herdada pelos galegos. Precisamente esta divisão sueva nascida do parrocchiale suevum, continua ainda muito viva no Portugal das freguesias.
A Idade Média toma outra dimensão também à luz dos novos documentos e trabalhos; assim as provas achegadas por novas leituras como a do prof. Anselmo Lopez Carreira deitam por terra, os já por si escassos apoios que a teoria da “Reconquista” tinha entre a maioria dos especialistas da Europa. E mais, a Galiza Medieval é o reino que assume a relevância durante este espaço histórico junto com o Al-Andalus dos Califas Omeyas. Negar esta evidencia é negar as próprias crónicas e documentos andalusis, assim como os do papado, do Império Carolíngio ou mesmo as sagas viquingues. A luta da nobreza galega pelo domínio do espaço peninsular se alargaria até mesmo a época dos Reis Católicos. Nesta estratégia de supremacia atlântica em contraposição à visão da Ibéria Mediterrânea (muito desenvolvida por Aragão), e o mais tardio conceito continental Europeu, que vão introduzir os Hasburgo, Galiza sempre tendeu pontes económicas e alianças duradouras com os mais poderosos reinos atlânticos da época, nomeadamente Borgonha, Inglaterra e Portugal.
E nesta voragem de factos que estão a ver a luz com maior intensidade durante este começo de século, não poderíamos esquecer a revisão dos chamados “séculos escuros” onde nos encontramos com elementos tão interessantes como os que nos descobre o próprio Prof. Pena Granha nos seus trabalhos desde o concelho de Narom, do padecer, sofrimento e imensas perdas económicas que todo o litoral crunhês teve como consequência da política de guerra de Felipe II e a famosa construção da sua temível “Armada Invencível”; truncando laços comercias com as ilhas britânicas que se remontavam à noite dos tempos.
De igual jeito poderemos destacar o papel primórdio que o reino da Galiza jogou na expulsão dos franceses da Península, sendo o primeiro país da Europa a desalojar o exército napoleónico do seu território, quatro anos antes de ser expulso do resto do território peninsular e permanecendo durante este período de tempo em total autogoverno, dirigido pela Junta da Galiza, que tanto assinava acordos internacionais como organizava o território ou arrecadava impostos; com sede primeira em Lobeira e depois na Crunha. Sendo este mesmo exército quem, ao vencer os franceses na batalha de São Marcial, definitivamente expulse o invasor, como o próprio Almirante Wellingtong testemunha. E de novo nesta época a aliança atlântica restabelecida, que vai dar benefícios a toda a Espanha no seu conjunto.
Factos desta e outra natureza fazem-nos lembrar que a Galiza tem uma história de si, nem superior ou inferior à de nenhum povo, mas com elementos próprios que fazem do povo galego um ser com identidade milenar.
A mudança do paradigma político tem a ver com esta base histórica e a suas alianças culturais e económicas lógicas num país situado nestas latitudes.
Como país Europeu e com essência indo-europeia, a Galiza desenvolveu um sistema económico e de relações sociais onde o indivíduo como ser tem direito à propriedade desde os princípios organizativos da treba céltica. Os Impérios Asiáticos desenvolveram autocracias onde a vida do indivíduo dependia em grande parte das necessidades dos monarcas. Em base ao crescimento populacional, baseado na ampliação das culturas máximas como o arroz, os monarcas orientais foram capazes de construir imensos exércitos e desenvolver grandiosas proezas da engenharia como a muralha chinesa. Capazes de realizar extraordinários avanços técnicos, mas com picos de desenvolvimento não prolongados no tempo e depois descidas à situação anterior enquanto a inventiva e inovação individual e coletiva chegava ao ponto de ameaçar o domínio inquestionável do Imperador sobre todos os seus súbditos. Factos que só podem ser explicados à luz do domínio absoluto das classes sociais cortesãs, que decidiram sempre quando essa inventiva deveria ser relegada, e dizer quando a técnica chegara ao topo do qual não poderia passar a não ser precipitando a queda ou conversão do próprio Estado totalitário.
A Europa, que já na época grega se confrontara com a Ásia, desenvolveu no mediterrâneo um modelo de cidade-estado onde o cidadão livre tinha a decisão e voto, apesar de economicamente estar sustentado pela escravidão. Este modelo nunca foi idílico e as mais das vezes o mundo grego cai na tirania, sendo a chacina uma das formas mais usuais de desatar o poder nu dos governantes tirânicos. Mas o espírito republicano perdurou e apesar das derivas Imperiais, primeiro de Alexandre Magno e depois do Império Romano, ficando intato até a Renascença Italiana do século XVI (lembrar que na Itália da renascença a tirania e poder nu estiveram também muito presentes, mas já na figura do senhor feudal e das famílias medievais, das quais nasceriam a moderna figura do banqueiro). Daí passaria ao resto da Europa e chegaria à fachada atlântica, renovado pelas achegas que logo lhe fariam a Reforma Religiosa, e mentalidade grupal do clã caraterística destes territórios. É óbvio que a igreja católica, nascida ao abrigo do Império Romano, replicaria mimeticamente a estrutura própria do estado Imperial, e com a imposição do celibato criaria um forte mecanismo de integração e controlo desde a cúpula, que seria muito eficaz para a formação dum poder que vai ser hegemónico durante toda a Idade Média. No entanto, seriam os países que aderiram à reforma protestante os que levariam anos mais tarde o peso da inovação e a modernidade, que fariam da Europa o grande dominador global, se bem foram os países ibéricos achegados ao papado quem inaugurariam esse domínio global das potências europeias.
A revisão histórica da Idade Média Europeia, traz à luz novos acontecimentos que dão também um giro ao paradigma geoestratégico que mais tarde se daria com o deslocamento do Islão como centro do mundo. Enquanto o Islão não foi capaz de aproveitar os descobrimentos feitos na sua expansão, nem de adaptar essas inovações de modo a revolucionar o seu sistema político e social, devido, em parte, ao peso da religião nos últimos tempos do seu predomínio, e em parte à mentalidade de Guias absolutos que os seus califas assumiam seguindo a mais pura tradição árabe, de princípios da conquista; em contra posição os condados europeus da Idade Média foram um contínuo abrolhar da iniciativa privada e coletiva (de tipo cooperativo) que revolucionaria as suas sociedades.
Relegado o Islão, adormecido o Oriente sobre si mesmo, os europeus tinham as portas abertas para completar a sua primeira missão envolta no embrulho civilizador, mas claramente dominadora. Portugal foi capaz de dominar todo o Índico e o Oriente até o Japão por umas décadas, algo que não seria possível ou se complicaria muito se antes a frota chinesa que comandava essas águas, por decisão Imperial, não tivesse sido completamente retirada; acontecimento completamente inconcebível a não ser à luz do primordial interesse imperial chinês, voltado ao controlo interno da sua população e dos seus súbditos mais poderosos.
A Europa fez-se então facilmente com estes domínios oceânicos, e nos séculos a seguir fez o seu domínio intensivo, opressivo e esmagador.
A Rússia tentou a modernização na figura terrível de Pedro I o Grande, e depois com Catarina passou a consolidar o Império mais extenso da época. Mas nunca deixou de manter a estrutura feudal baseada na escravatura, com um modelo de autocracia mais próximo do oriente que dos modelos tirânicos europeus, mesmo os mais absolutistas.
Assim foi-se alastrando através dos séculos até a chegada da Revolução de Lenine em Outubro de 1917. Polémicas à parte de se a implementação duma sociedade socialista era viável ou não na Rússia, o certo é que a estrutura administrativa de dominação czarista jamais foi devidamente substituída, e com a chegada ao poder de Estaline, ao invés, aprofundada. Esta herança do Partido Comunista soviético invadiu grandes áreas do globo através do contágio dos seus homólogos partidos satélite. A Galiza não foi a exceção e alguns partidos galeguistas e nacionalistas copiaram este modelo que ainda dura até os nossos dias. Este modelo supõe que o partido deve controlar e implantar-se dentro das organizações sociais, podendo ser criadas por ele e depois funcionar de cadeias transmissoras das suas diretrizes ou bem tomando o controlo organizativo das, até então, organizações independentes, e integrando-as, mais tarde, na rede partidária. Esta forma de pensar e fazer política elimina a livre iniciativa dos coletivos, assim como dos indivíduos, e é incompatível com o caráter “callaico” de homem de clã com direito à posse individual dos bens que o grupo considere próprios à pessoa como ente.
Isto não quer dizer que o socialismo fosse irrealizável na Galiza, mas sim que nunca poderia ser marcado como ideal o herdado da autocracia soviética.
Na atualidade, desde a entrada da Espanha e Portugal no seio da União Europeia e a criação das Eurorregiões, a Galiza já não pode basear as suas estratégias político-económicas na simples tentativa de superação da sua peculiar e hipotética localização periférica a respeito do centro peninsular.
Com a entrada em vigor da Globalização, que irrompe com força desde fins dos anos 80 e princípios dos 90 do século passado, a Eurorregião Galiza–Norte de Portugal (que coincide mais ou menos com o espaço territorial das onaiko Ártabra e Groiva, e parte da onaiko Astúrica; assim como com os conventos Lucense e Bracarense) tem um papel central, tanto pela sua posição no Atlântico Norte, pela conexão marítima que isto implica, assim como por ser de modo natural esta área calaica a ponte idónea para as relações culturais atlânticas entre o mundo lusófono, céltico e anglófono e o mundo hispano.
Resumindo, a nova estratégia do Galeguismo do S. XXI deve considerar estes factos e ter em conta a sua correta evolução histórica para, à luz duma nova interpretação, criar uns renovados pilares de definição do galeguismo a nível estratégico global e local.
1. A Identidade galega devém da identidade calaica criada no noroeste peninsular, quer dizer, de um contínuo histórico que chega até os nossos dias.
2. A história da Galiza é tão rica como a de qualquer outro povo, e Galiza tem sido em diferentes períodos históricos referente principal e ator privilegiado no acontecer europeu, tanto na Idade Média, cuja importância fica referida pelos distintos documentos que falam da sua relação com o papado, com o Império Carolíngio, com os países escandinavos e mesmo com Bizâncio, quanto nas guerras napoleónicas, como testemunham certeiramente os estudos do Prof. Ernesto Vázquez Souza.
3. Necessidade de renovar a eterna aliança com o mundo atlântico e as ilhas britânicas
4. Necessidade de renovar a velha aliança com o mundo Lusófono e Portugal.
5.- A defesa no quadro peninsular duma cultura especificamente atlântica e a luta pela consagração desse espaço vital para o desenvolvimento económico e cultural galego.
Tomando estes vetores, sendo também a Galiza a matriz do mundo lusófono, e o berço donde evoluiu, a partir do s. XII, a sua posterior independência a Galiza Bracarense, ou Porto Calem, que logo se constituiria na unidade do reino de Portugal, não pode ficar presa esta língua comum a ambos os lados do Minho, de normativas isolacionistas e deve procurar iniciativas que tendam a inserir a língua no tronco comum, evitando táticas que a afastem do seu rico quadro cultural luso e atlântico, quando por todo o globo se estão a dar reações contrárias, que visam unificar as línguas em clave de reintegração.
Pelo qual devemos encorajar o movimento galeguista a nível particular, e institucional se for o caso, a implementar o Novo Acordo Ortográfico, que está a ser assinado por todos os países galego-falantes ou luso-falantes, pois este deve ser um vetor fundamental do novo galeguismo, sem o qual num mundo globalizado as perspetivas duma língua construída a base de provas de laboratório, e isolada do quadro de referência, convivência e enriquecimento mútuo, são escassas ou nulas.
O galeguismo, pois, não sendo propriedade de nenhum grupo político, económico, social ou organizativo, será estruturado conforme a livre visão de cada movimento e os seus legítimos interesses, mas implementado este vetores fundamentais sem os quais será muito difícil renovar o pensamento e praxe errónea que até agora tem dominado o mundo galeguista.

CAS cultural

História Geral de África (8 volumes)
Uma preciosidade para os mais curiosos destas matérias, e que têm tempo para se dedicarem a estas pesquisas.
8 volumes - edição completa
Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010.
Resumo: Publicada em oito volumes, a colecção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da colecção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a colecção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A colecção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direcção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Download gratuito (versão em português):
Volume I: Metodologia e Pré-História da África (PDF, 8.8 Mb)
ISBN: 978-85-7652-123-5
Volume II: África Antiga (PDF, 11.5 Mb)
ISBN: 978-85-7652-124-2
Volume III: África do século VII ao XI (PDF, 9.6 Mb)
ISBN: 978-85-7652-125-9
Volume IV: África do século XII ao XVI (PDF, 9.3 Mb)
ISBN: 978-85-7652-126-6
Volume V: África do século XVI ao XVIII (PDF, 18.2 Mb)
ISBN: 978-85-7652-127-3
Volume VI: África do século XIX à década de 1880 (PDF, 10.3 Mb)
ISBN: 978-85-7652-128-0
Volume VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 (9.6 Mb)
ISBN: 978-85-7652-129-7
Volume VIII: África desde 1935 (9.9 Mb)
ISBN: 978-85-7652-130-3


16 de junho de 2011

poétiCAS

O Alquimista Kafka*
Emanuel Medeiros Vieira

Franz Kafka (1883-1924),
três quilos mais magro,
enigmático sorriso no canto da boca,
renasceu numa repartição do INSS,
misteriosa demanda. .
O velho Franz esperou em cadeiras mofadas,
“falta um documento” (voz do sub-burocrata mor)
“o carimbo do órgão K”,
Esperou, envelheceu.
Kafka: quieto, longilíneo, gentil e protocolar
(como o seu próprio estilo: cartorário- sutil
relatório para ser lido nas entrelinhas),
contempla uma barata passeando nas bordas
do processo, castelos sonâmbulos,
américas perdidas (inúteis caravelas),

Esperou mais – sorriso insubornável,
Franz Kafka retira-se –
plagas que não conhecemos.

*Este poema obteve o 3° lugar – concorrendo com
mais de 700 trabalhos em evento de âmbito
nacional – no III Varal de poesias da
UNIFAMMA – Faculdade Metropolitana de
Maringá, Paraná, 2008.

13 de junho de 2011

Ainda em tempo de celebração...

Celebrando o DIA DE CAMÕES - DIA DE PORTUGAL por José Jorge Peralta:

Os textos de Camões são para ler e saborear um pouco o espírito da Portugalidade.
Texto sobre a presença de Camões na Biblioteca Municipal de São Paulo:
http://tribunalusofona.blogspot.com/2011/01/biblioteca.html

SELEÇÃO DE TEXTO EM
www.tribunalusofona.blogspot.com

À semelhança de Agostinho da Silva



CRESCIMENTO ZERO

Apesar da obsessão incontida do consumo, estimulada por todos os meios de divulgação, incluindo-se subsídios oficiais, as pessoas sentem que algo está errado nessa volúpia de comprar. Intuem, mas são intimidados pelo próprio conformismo de expressar seu sentimento sobre esse perigo que se anuncia.
O delírio do crescimento econômico que incita a produzir mais para consumir mais, está nos levando para o impasse, a frustração e o desastre. Há que deter a expansão econômica impulsionada a qualquer custo, pois a mina de ouro – a natureza – é limitada. A tendência inteligente aponta para o decrescimento gradativo rumo ao estágio do crescimento zero, equilibrado, sensato para chegar ao ponto ômega em que o corpo se encontre com a alma e vice-versa.
Uma nova atitude diante das ameaças à vida no planeta poderá encontrar formas radicais de contenção do crescimento econômico sem perder a ternura. Deverá ser possível buscar o caminho do decrescimento inteligente ou a inteligência capaz de alcançar o estágio do crescimento zero (CZ). O primeiro passo é programar o crescimento zero da população. Menos gente, menos agressão à natureza, menos tudo. A economia pode mudar seu enfoque para se desligar dos sentimentalismos religiosos e do assistencialismo político da opção pelos pobres e declarar corajosamente sua opção pelos ricos. Eles são minoria no mundo. Isto significa drenar em profundidade a riqueza acumulada em poucas mãos para aplicá-la na contenção demográfica através de incentivos públicos à redução da expansão da população. Trata-se de inverter os papéis estratégicos das funções do Estado: administrar a riqueza e não a pobreza.
Por outro lado, expande-se cada dia mais, entre as mulheres, a sensação benéfica de que a felicidade feminina não precisa de cinco gravidezes para consolidar a maternidade. Há, portanto, condições favoráveis para o crescimento zero da população e, consequentemente, o crescimento zero da economia. Há que se caminhar na direção de prover a sociedade humana de bens socializáveis e reduzir os bens materiais individualizáveis. A tecnologia eletrônica de comunicação mundial é um dos exemplos de bens socializáveis. Dá-se, dessa forma, mais amplo espaço às pessoas para desfrutarem o essencial da existência que é a própria vida, um bem intransferível.
(Introdução ao estudo sobre o tema)
Eugênio Giovenardi
11.6.2011

crítiCAS

Por que não existem ONGs no Nordeste seco?
Você consegue entender isso?.
Vítimas da seca
Quantos? 10 milhões
Sujeitos à fome? Sim
Passam sede? Sim
Subnutrição? Sim
ONGs estrangeiras ajudando: Nenhuma
Índios da Amazônia
Quantos? 230 mil
Sujeitos à fome? Não
Passam sede? Não
Subnutrição? Não
ONGs estrangeiras ajudando: 350
Provável explicação: A Amazônia tem ouro, nióbio, petróleo, as maiores jazidas de manganês e ferro do mundo, diamante, esmeraldas, rubis, cobre, zinco, prata, a maior biodiversidade do planeta (o que pode gerar grandes lucros aos laboratórios estrangeiros) e outras inúmeras riquezas que somam 14 trilhões de dólares.
O nordeste não tem tanta riqueza, por isso lá não há ONGs estrangeiras ajudando os famintos.
Tente entender: Há mais ONGs estrangeiras indigenistas e ambientalistas na Amazônia brasileira do que em todo o continente africano, que sofre com a fome, a sede, as guerras civis, as epidemias de AIDS e Ebola, os massacres e as minas terrestres. Agora, uma pergunta: Você não acha isso, no mínimo, muito suspeito? É uma reflexão interessante.
(Jaime Andrade)

Fernando Pessoa

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

(Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935)

11 de junho de 2011

CAS em convergência lusófona

Segundo o noticiado em vários órgãos de comunicação social portugueses, as instituições de ensino superior dos países lusófonos estudam a criação de um programa de mobilidade que se definirá no encontro da Associação de Universidades de Língua Portuguesa (AULP) que já acontece em Bragança.
A CAS apoia essa proposta que põe em evidência um dos ideais pedagógicos de Agostinho da Silva há muito por ele efetivado quando da formação do Centro de Estudos Afro-Orientais na Bahia dos anos 50 do século XX.
A Convergência da Língua Portuguesa realizada no âmbito educacional é urgente e precisa para alavancar, a partir do Brasil e Portugal, o livre curso de estudantes e docentes no espaço lusófono, mantendo-se o respeito às diferenças político territoriais de cada país membro da CPLP, mas, promovendo o incentivo ao conhecimento da cultura de língua portuguesa entre culturas, bem como o apoio ao desenvolvimento social e econômico, livre de qualquer ranço ou tentativas de neocolonialismo, que reforcem o bem estar de todos os cidadãos indiferentemente de raça ou credo.
Primamos pela divulgação do pensamento e obra do professor luso brasileiro Agostinho da Silva e, por isso, o seu nome deverá intitular o Programa de mobilidade lusófona que é discutido no XXI Encontro da Associação de Universidades de Língua Portuguesa.

CAS em alerta

A CAS apoia iniciativas de proteção e conservação do meio ambiente. Sendo assim, registra uma ação do Greenpeace e solicita maior participação e transparência do Governo brasileiro sobre a usina nuclear de Angra 3.


O Greenpeace foi ontem até a embaixada da Alemanha em Brasília para expor uma contradição do governo de Angela Merkel, que apresentou um plano para livrar seu país da geração nuclear até 2022, mas manteve o financiamento alemão que viabiliza a construção da usina nuclear de Angra 3.

Apesar dessa estranha concepção de que o que não é bom para a Alemanha é bom para o Brasil, Merkel pelo menos tomou uma atitude contra uma forma de energia que, como provam Chernobyl e Fukushima, não é apenas cara mas extremamente perigosa.

Merkel não está sozinha. Na esteira do acidente com os reatores de Fukushima, vários outros países – China, Suíça, Estados Unidos – reviram as políticas de expansão de seus parques nucleares ou apertaram os requerimentos de segurança. Aqui, o comportamento do governo em relação ao assunto tem sido caracterizado pela mais absoluta falta de transparência.

Nem a ciber carta que dirigimos à Dilma depois de Fukushima conseguiu quebrar o silêncio do governo sobre nuclear ou decidir de forma clara sobre o futuro energético do Brasil. A carta foi assinada por quase 40 mil pessoas que continuam sem resposta sobre seu pedido para suspender a construção de Angra 3. Essa postura é um claro sinal de que precisaremos redobrar nossos esforços para livrar o país desta geração de energia cara e suja. E a sua participação, apesar de não demover Dilma, é um imenso incentivo a nós do Greenpeace. A todos que assinaram a carta, nosso mais profundo obrigado.
Fique de olho na campanha de energia do Greenpeace.

10 de junho de 2011

poétiCAS

“Ontem E Hoje De Dia E À Noite”

Hoje matei um mosquito
Hoje sou um herói da existência
Hoje estou orgulhoso de minha valentia
Hoje provei que só o medo me amedronta
Hoje tornei-me superior à sombra do dia-a-dia

Amanhã esconder-me-ei num buraco sem fundo
Amanhã caminharei por um bêco sem saida
Amanhã voltarei a seguir o sentido da vida
Amanhã regressarei à essência das coisas
Amanhã procurarei ser modesto

Hoje mantenho-me erecto
Hoje dispo-me de remorsos
Hoje desligo-me de promessas vãs
Hoje penduro-me numa realidade virtual
Hoje engajo-me em usar máscaras paralelas

Amanhã talvez pense melhor do que ontem
Amanhã tentarei remoer o passado sim
Amanhã olharei para o vazio recente
Amanhã amansarei o coração
Amanhã dissiparei a névoa

Hoje ainda estou indeciso
Hoje há insegurança no que decido
Hoje está tudo tão semelhante ao habitual
Hoje irei imaginar a correnteza forte de um rio
Hoje meu pensamento desaguará num oceano imenso

Um dia tudo se resumirá num só ponto final
Um dia pararei de escrever no abstracto
Um dia acabará o papel do guião
Um dia o cenário findará
Um dia será noite...

Escrito em Luanda, Angola, a 09 de Junho de 2011, por manuel duarte de sousa, em Alusao aos passar dos tempos e da vida...

7 de junho de 2011

Do Agostinho em torno do Pessoa

POEMA RECENTE DE FERNANDO PESSOA

Quando eu amei a Ofélia
foi só Baixa de Lisboa
algum talento umas graças
e beijo que nem ressoa.

Convencido fiquei eu
que era como um rei da vida
já todo o ser quando for
será só o que eu decida.

Mas com esta que surgiu
como a vou eu merecer
só regressando ao divino
e não voltando a nascer.
(Texto recolhido de SILVA, Agostinho da. Do Agostinho em torno do Pessoa. Lisboa:Ulmeiro, 1997, p. 13)

6 de junho de 2011

poétiCAS


Ainda a língua



Tanta discussão inócua sobre a língua

Só se fala em língua culta, inculta...

Com isso passaram a usar a língua ferina.

Esquecem que boa mesmo é a língua vulgar,

Aquela do prazer, que é devassa, invasiva,

Que fala só em tocar, sem emitir som...

Vai ver esta é que estão precisando usar.

E nem falei da língua quente, abrasiva

Esta que nos incendeia e arde feito brasa.

Ah! Bom seria que todos soubessem:

Língua é melhor quando usada pra beijar.


Autora:Vera Nilce

CAS em alerta: O elogio da motosserra



Aprovação do Código Florestal pela Câmara: O elogio da motosserra
Por Emanuel Medeiros Vieira

"Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come.” (Greenpeace)
A aprovação do inominável a do Código Florestal pela Câmara dos Deputados É UM RETROCESSO AMBIENTAL QUE – SE NÃO FOR MUDADO NO SENADO OU VETADO PELA PRESIDENTE DILMA – afetará as atuais e as próximas gerações de brasileiros.
É o elogio da motosserra, é a apologia do desmatamento. No fundo (não exagero) é a defesa da morte e da destruição.
É claro que se o Senado não mudar o código, as mudanças propostas irão gerar uma cadeia irreversível de devastação ambiental que irão danificar a paisagem do Brasil para sempre.
Os desmatadores estão fora de controle, incentivados pela promessa de anistia e da nova regulamentação. O desmatamento se multiplicou a um nível astronômico. O desmatamento da Amazônia atingiu em abril 593 km quadrados da floresta, cinco vezes mais que o índice registrado no mesmo mês de2010, segundo dados oficiais divulgados em 18 de maio.
Emendas dos ruralistas irão anistiar crimes ambientais cometidos antes de 2008, e acabarão com a proteção a áreas vulneráveis, tais como matas ciliares e topos de morros, áreas em que a cobertura florestal é crucial para prevenir deslizamentos e enchentes como as que recentemente devastaram comunidades de norte a sul do país.
Os constantes assassinatos de ambientalistas e de defensores da Amazônia no Norte, não estarão ligados à certeza da impunidade? Não adianta o governo só fazer reuniões e se lamentar.
É PRECISO AGIR! É PRECISO NÃO TER MEDO!

É uma luta duríssima!
Durante a campanha eleitoral, Dilma prometeu vetar qualquer lei que aumentasse o desmatamento.
Cobremos a sua promessa!
(Salvador, junho de 2011)

Do Agostinho em torno do Pessoa

Sobre Fernando Pessoa
direi a coisa correta
quem é mesmo criador
cria poema e poeta.

Olá meus filhos libertos
Álvaro Reis e Caeiro
que sorte foi para vós
vosso pai não ter dinheiro.

POEMA QUE PESSOA NUNCA PÔS NA ARCA

De Álvaro sei como sei
desse latim do Ricardo
do pensamento de Alberto
luz incerta um gato pardo

sei de algum outro tão bem
como ele sabe de mim
e de quantos sei ainda
metidos na arca sem fim

e de Bernardo esquisito
como espelho em mim cravado
se se quebra me quebro eu
mas sangue só de meu lado

sei com todo o pormenor
de tudo o que me nasceu
sei de toda a criação
só não sei o que sou eu.

(Textos recolhidos de SILVA, Agostinho da. Do Agostinho em torno do Pessoa. Lisboa:Ulmeiro, 1997.)

5 de junho de 2011

Informe da CAS

Para os afrodescendentes da ONU tem inscrições abertas até 15 de junho
No contexto do Ano Internacional dos Afrodescendentes, a Unidade Anti-Discriminação do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) está lançando um programa de bolsas para descendentes de africanos, no período de 10 de outubro a 4 novembro de 2011. O prazo para envio de propostas é dia 15 de junho de 2011.
O programa de bolsas proporcionará a oportunidade de aprofundar a compreensão do Sistema de Direitos Humanos das Nações Unidas e de seus mecanismos, com foco em questões de particular relevância as pessoas de ascendência africana.
Isso permitirá aos bolsistas contribuir de forma mais efetiva à proteção e a promoção dos Direitos civis, políticos, econômicos, sociais e cultural dos Afrodescendentes em seus respectivos países e comunidades.
Quem pode se candidatar?
O candidato deve ser afrodescendente;
O candidato deve ter no mínimo 4 anos de experiência no tratamento de questões relativas aos afro-descendentes ou minorias;
O candidato deve ser fluente em inglês;
Uma carta de apoio de uma organização afrodescendente ou da comunidade.
Processo de Seleção
Na seleção dos bolsistas, as questões de gênero e o equilíbrio regional serão levados em conta. Os documentos apresentados deverão estar em Inglês.
Direitos
O candidato selecionado tem direito a uma bolsa para cobrir alojamento, as despesas básicas em Genebra, seguro básico de saúde, bem como um retorno de avião com bilhete de classe econômica.
Inscrição
Os candidatos interessados são convidados a apresentar o seu pedido por e-mail para africandescent@ohchr.org ou por fax para: 004122-928 9050 com uma carta de apresentação indicando claramente “Application to the 2011 Fellowship Programme for People of African Descent”, com os seguintes documentos:
application form: http://www.ohchr.org/Documents/Events/IYPAD/ApplicationFormIYPAD.pdf
curriculum vitae
carta de motivação (máximo de 1 página) onde o candidato explicará sua motivação para a candidatura, o que ele/ela espera alcançar através da bolsa e como ele/ela usará o que aprendeu para promover os interesses e os direitos dos afro-descendentes
uma carta de apoio de uma organização/entidade parceira.
O prazo para o recebimento de inscrições é 15 de junho de 2011. Somente os candidatos pré-selecionados serão contatados.
http://onu.org.br/programa-de-bolsas-para-afrodescendentes-da-onu-tem-inscricoes-abertas-ate-15-de-junho/

Um Debate promissor e preciso

UMA TROMBADA DO MEC
AFRONTA O BRASIL
José J Peralta
O texto do senhor SL parece apenas mais um “samba do crioulo doido”, de tão incoerente e frágil como se apresenta.
Apesar de seu propalado doutorado em linguística, sinto dizer-lhe que, no caso em pauta, os não linguistas, (alguns), a que se refere, sabem muito mais o que estão falando do que ele. Efetivamente, nós linguistas, não temos e nem pretendemos ter o monopólio da ciência da linguagem humana, até porque esta tem razões que própria razão desconhece.
Linguista que desconhece o capítulo “Sistema, Norma e Fala” tem grave falha em formação científica.
A linguagem é sempre muito mais do que um modelo linguístico, sempre reducionista, como todos os modelos. Não podemos, pois, erigi-lo como uma lei prepotente que tudo resolve. No cientista não cabe a arrogância do dogmático que se posiciona além do bem e do mal..., capaz de dar solução a todos os problemas, contradições e precariedades inerentes à condição humana. A questão de ensino da Língua materna é uma questão nevrálgica que interessa a toda a nação, onde os “linguista” são uma parte mínima a ser ouvida, sempre criticamente, rejeitando rolos compressores, sempre autoritários. Sem dogmatismos prepotentes e às vezes terroristas...
O linguista, se tiver uma visão holística sempre pode dar boa contribuição. Os dogmáticos e de visão meramente descritiva atuam em campo muito limitado. O saber da linguagem humana, escrita ou falada, portanto duplamente articulada, passa pela linguística descritiva, mas passa também pela gramática normativa, pela semiótica, pela sociologia, pela psicologia, pela Política da Língua e muito mais. Refiro-me a Política, com P maiúsculo.
Os grandes mestres Antônio Houaiss, Celso Cunha, entre outros, conheciam bem a questão, hoje, por muitos esquecida.
Querer sair a campo como tutores do ensino da Língua materna, sem ouvir, com respeito, outros especialistas, é, no mínimo, um acinte e um contrassenso.
A língua, além do capítulo de Linguística descritiva formal, tem dimensões semânticas, estilísticas, psicológicas, políticas, culturais etc, etc. Até a dimensão econômica que não há como descartar. Não dá para ter atitudes simplistas, em um assunto tão complexo e fundamental num pais civilizado, tal qual vem acontecendo.
Olhar uma só dessas dimensões é miopia. Pode levar a graves consequências. Falar do ensino de Língua Materna não é questão para neófitos de parca visão sócio-político-cultural.É um acinte criticar jornalistas e escritores por darem sua opinião nesta questão tão séria, qual seja: o MEC intervém de modo irresponsável e atabalhoado no ensino da Língua Portuguesa no Brasil.
Os autores citados pelo senhor SL, (Mônica, Tezza, Garcia, Lacerda e Buarque) não são, certamente, os pensadores mais avalizados para tratar sobre a questão em pauta do ponto de vista lingüístico . São pessoas avalizadas, como pensadores, como formadores de opinião e como cidadãos respeitáveis.
Neste caso ninguém tem o Monopólio do saber. O que não podemos deixar de saber é que há muitos outros lados da questão que não podem ser esquecidos ou que podem ser tratados em outros parâmetros e com outros paradigmas.
A Língua falada por um povo, devidamente normatizada, passa pelos modelos linguísticos, mas vai muito mais além, entrando nas questões de Política da Língua, tornando-a uma das forças matriciais da unidade e da soberania nacional.
Querer expor ideias esdrúxulas, de alguns dos autores citados na bibliografia, como se fossem a última palavra, seria, efetivamente, uma tragédia cultural. Pois foi nessa canoa furada que o MEC embarcou, ingenuamente (?!), cometendo um dos piores erros do MEC dos últimos tempos. Um erro primário, ofensivo a tantos pensadores, também linguistas e de outras esferas do conhecimento, que trataram este assunto com a maior seriedade e respeito. Voltarei ao assunto em breve. Aguarde.
[Nota: Este texto é um comentário a um artigo publicado no site http://casaagostinhodasilva.org ]

O regresso ao futuro passado






"Eu, outro dia, dizia a um amigo: "Eu vou inventar outra razão dos Descobrimentos Portugueses." É que os portugueses com essa saudade que tinham de andar colhendo fruta e não trabalhando coisa nenhuma começaram a ver de que maneira é que a coisa podia, podia voltarmos a isso, e começaram a construir Portugal, e depois embarcaram e andaram pelo mundo, e toda essa coisa. Os Descobrimentos foram a vontade de descobrir o caminho para voltar a não trabalhar, não é assim? Para se divertir à vontade, pronto, e a coisa foi por aí fora... acho que é uma boa razão para os Descobrimentos. Os Descobrimentos que os portugueses fizeram foi para fazer com que o futuro coincidisse com o passado. Que é a ideia de Einstein. O regresso ao futuro que seja o passado, ele próprio. Muito mais rico, não é?

Porque aqueles cavalheiros, por exemplo, aqueles cavalheiros não se podiam lembrar de ter lido Shakespeare, ou qualquer coisa desse género, e nós podemos lembrar dessa história. Tivemos uma série de aventuras que será muito mais interessante recordar um dia, as coisas todas que fizemos e por onde andámos, por causa dessa história, não é? A aventura foi, realmente, muito interessante. Tudo o que se passou. Tudo o que se viu."
Texto recolhido do livro Agostinho da Silva - Ele Próprio. Portugal: Zéfiro, 2006, p. 119 - 120.

2 de junho de 2011

Roupa na língua?


Dizem muitos entendidos que a língua é como a roupa. Conforme a situação se usa. Assim como seria ridículo ir de fraque escalar os Alpes ou ir de botas de alpinista para um casamento, seria também ridículo usar linguagem erudita em situações coloquiais ou populares e vice-versa.
Nada mais confuso, nada mais enganador! A comparação é boa, aliciante e sugestiva, por isso ela é extremamente perigosa e tem de ser denunciada, aos quatro cantos.

E por que está errada? A língua é de índole completamente diferente. A comparação, então, só se aplica parcialmente e, por isso, é tão enganadora.

A primeira grande diferença nesta comparação tem a ver com o uso. Geralmente, a roupa se conserva por não usar, e quanto mais se usa, mais se gasta e se deteriora até se ter de comprar uma nova. A língua é completamente ao contrário. Paradoxalmente, se não se usa, gasta-se e deteriora-se. Por outro lado, quanto mais se usa a língua, e se usa bem, mais nova, brilhante e vigorosa fica.
A segunda diferença tem a ver com a estrutura. A língua tem uma estrutura orgânica, mais parecida com com o corpo humano do que com a roupa. De alguma forma, a gramática é o seu esqueleto. Ora, alguém, normalmente, pensa mudar de esqueleto, conforme as circunstâncias? Loucura!

A primeira conclusão que podemos tirar é de que devemos incentivar o uso do núcleo da linguagem erudita e ensiná-la desde a tenra idade, e não confundir as pessoas com padrões diversos: focar, ensinar e disseminar o padrão, e referir e explicar os desvios. Como diz o velho ditado “Para baixo todos os santos ajudam”. A vida encarregar-se-á de ensinar os desvios a cada um, que saberá encaixá-los no seu quotidiano. Só o uso frequente e o respeito por um padrão erudito nuclear aumentará a eficiência linguística e a comunicabilidade sem ambiguidade e confusão.
A segunda conclusão é de que se deve insistir no núcleo do padrão da linguagem erudita na grande maioria das situações. Isto não impedirá o uso de qualquer desvio em qualquer circunstância, pelo contrário, este terá um novo sabor se tivermos claro o padrão. Da mesma forma isto não será um desrespeito pelas diferenças. Antes, quanto mais claro, eficiente e unívoco
for o idioma de intercomunicação, melhor repararemos nas diferenças regionais, sociais, etc, e as saborearemos e partilharemos, sem confusões.
Deste modo não tem sentido, por exemplo, o fato de que são muito raros os filmes brasileiros onde seja respeitado o padrão linguístico exigido numa prova de vestibular; mesmo em filmes dublados, estrangeiros e em épocas antigas.

O que muitos desses senhores que desejam a confusão querem, eu sei o que é: que o povo ande com roupa na língua, enquanto eles, com a sua nua e agitada, chicoteiam as massas, dominando-as. E àqueles que não conseguem dominar, entretêm-nos com atividades culturais onde os elogios recíprocos os anestesia da situação atual da língua, ou lhes dá uma falsa esperança de que essas atividades vão contribuir alguma coisa para a elevação cultural do povo. Não tenho dúvidas: não há emancipação sem emancipação linguística. Não há igualdade de oportunidades sem a mesma fluência no padrão nuclear linguístico, para todos.