3 de maio de 2011

Para Reflexão

ÉTICA DO PASSADO

O Assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, ex-comunista, meu contemporâneo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nos anos 60, membro da cúpula da Federação de Estudantes do Rio Grande do Sul e, eu, secretário de Relações Sindicais, pensávamos, naqueles anos passados, um país justo e honesto.
Nós queríamos, ingenuamente, chegar ao poder pelas armas, na trilha da gloriosa revolução cubana, uma vez que pelas eleições parecia impossível. Garcia, porém, adaptando-se à camaleonice dos novos tempos do crescimento econômico, à sombra da bandeira da pobreza, chegou ao governo na companhia de velhas raposas que, antes, jurara de morte. A última vez que nos encontramos, casualmente, foi numa esquina de Paris, há mais de 12 anos. O tempo passou.
Nos nove anos de Casa Presidencial, Marco Aurélio Garcia tem dado entrevistas e expressado opiniões no limite da lucidez esquerdista que, por várias vezes, atingiu frontalmente o bom senso. O tempo passou. Passado é passado. Novos conceitos da história, fundamentados na fantasia do Brasil potência, embalados pela insensatez do crescimento econômico, tomaram todo o espaço do raciocínio da esquerda desvairada e esquizofrênica.
Ontem, 30 de abril de 2011, trinta anos depois do temerário incidente do Rio Centro, na reunião do conselho de ética petista se concretizou a reabilitação política de Delúbio Soares, amigo pessoal do ex-presidente Lula. Delúbio Soares é réu em processo que corre no Supremo Tribunal Federal. Marco Aurélio Garcia defendeu a acolhida de Delúbio pelo PT e sem constrangimento ou vergonha justificou os argumentos que recolheram o desafortunado companheiro da rua da amargura e da “execração pública”, segundo palavras de compaixão cristã da senadora Martha Suplicy. Para Marco Aurélio Garcia, o veredito da assembleia petista se ajusta à ética do futuro. “Não vejo – diz Garcia – que Delúbio seja uma pessoa corrupta. Não fez nada em benefício próprio. Houve gestão temerária que trouxe enormes prejuízos. Mas o tempo passou”.
As temerárias fogueiras da Inquisição, em nome de dogmas religiosos, trouxeram poucos benefícios próprios a Alexandre VI, Júlio II ou Leão X. Os temerários campos de concentração e os crematórios nazistas, em nome da pureza da raça, pouco ou nenhum benefício próprio trouxeram a Hitler. O temerário Gulag da ex-União Soviética, em nome da ideologia, poucos benefícios próprios trouxeram ao ex-seminarista Stalin. As temerárias torturas e os mortos nas masmorras do DOI/CODI, em nome do anticomunismo, poucos benefícios próprios trouxeram aos marechais e generais de nossos 25 anos de ditadura militar. O caso Delúbio não se relaciona aos mencionados pelo número de mortos, mas pela semelhança dos métodos de perversão mental, baseada na mentira e na negação dos fatos publicamente registrados, que achincalham gerações presentes e futuras. Mas o tempo passou.
Então, na sequência dos fatos inegáveis, há que se perguntar a Marco Aurélio Garcia e a todo o cabido da ética futura da política, por que manter presos os Batisti, os Cacciola, os Fernandinho Beira-Mar e os 450 mil presos em cárceres desumanos deste país. Em pouco tempo, estarão todos condenados ao passado.
O tempo passou. Os princípios passaram. A era do pensar passou com o tempo. A nova ética do tempo que ainda não passou produz ideólogos e vestais políticos escamoteadores, malabaristas, prestidigitadores, falsificadores da realidade, negociadores de estranhos valores capazes de extinguir o passado pela maquiagem do presente como nunca antes neste país. A que ponto de execração pública foi rebaixada a inteligência política de áulicos do governo, iludidos de exercerem o poder!
1.5.2011


COINCIDÊNCIAS DO PAC

Todo mundo sabe que a senhora Dilma, antes de ser eleita presidente, teve dois filhos, o PAC I e o PAC II. A testemunha ocular dos partos foi seu antecessor que declarou publicamente: ela é a mãe. Não há informações de que, sendo presidente, Dilma poderá gerar outros, aumentando a família até 2014.
Esta sigla, milhares de vezes repetida nos últimos anos, está por PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO. Não entrarei no mérito da execução do Programa, pois essa é uma tarefa do Tribunal de Contas da União, órgão capaz de irritar presidentes por não aprovar as contas superfaturadas dos gastos em pontes, viadutos, represas, trem bala, aeroportos e portos.
A CNBB, com seu olhar crítico, apesar de aliada do governo, em suas reuniões de cúpula, recheadas de lições e opiniões de especialistas em economia e política, trata ironicamente o PAC como Programa de Aceleração do Capitalismo.
Mas a mais contundente coincidência das siglas encontrei ao examinar mais de perto o imbróglio do escritor Cesare Battisti, refugiado no Brasil sob a pecha de criminoso, assassino, comunista e antigo membro do PAC italiano – PROLETÁRIOS ARMADOS PELO COMUNISMO – grupo de extrema esquerda atuante nos anos 70, também chamados anos de chumbo.
Cesare Battisti é simplesmente um escritor com 17 livros publicados, quase todos na França por editoras de renome como Gallimard e Flammarion. Entre outros, está traduzido para o português Minha fuga sem fim, (Martins editora), circulando nas livrarias do nosso país. Segundo informações extra-oficiais, o asilo político lhe foi dado pelo ex-presidente por ser escritor e não terrorista. Embora nos conselhos de segurança nacional se diga que um escritor é um terrorista em potencial e, por isso, seria perseguido na Itália.
O dilema que se põe ao STF é se o Brasil, com a união do PAC da Dilma com o PAC do Battisti e a ironia da CNBB, vai acelerar o crescimento, o capitalismo ou o comunismo.

Humanamente
Eugênio Giovenardi

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